21 fevereiro, 2006

Descoberta



Seu estado era preocupante. Sem comer de verdade há mais de uma semana, sua pele agarrava-se a seu corpo e trazia um matiz azulado que dava a seu camaleão (o único amigo que não conseguira afastar de si) um ar melancólico. Maria estava assim desde que havia feito uma grande descoberta. A descoberta de sua vida. Pensava que era a descoberta de qualquer vida. Não podia contar para ninguém, agora ela era como que a guardiã de uma verdade terrível demais para ser revelada. Talvez alguém fosse capaz de compartilhar este segredo. O qual, agora, a assustava por sua imponderável obviedade e, paradoxalmente, por seu caráter, ao que parecia, impenetrável. A todas as outras pessoas? Ela desconfiava que sim, embora tal hipótese lhe parecesse um pouco fantasiosa.

Se a descoberta, por um lado, justificava sua aparente desistência de uma vida comum (já que era cada vez mais diferente e cada vez menos compartilhada), por outro era a própria causadora de seu estado semi-mórbido. De fato, sua descoberta não lhe impusera nenhuma das privações que agora vivia. Tal situação revelava a fragilidade que a já inequívoca necessidade de compartilhar seu segredo trazia. Quem acreditaria em alguém em seu estado? Os loucos trazem consigo o maldito privilégio de poderem gritar as verdades que as demais pessoas têm medo de sussurrar. No entanto, tinha convicção de sua sanidade, ao menos de sua coerência e auto-consciência, que acreditava ser o fator diferenciador entre humanos e animais – o que assemelhava os loucos aos seres de vontade e instinto.

Se muitas vezes tinha vontade de sair correndo com as roupas que estivesse (ou não) vestindo há vários dias, com o cheiro que odiava ter e gritar para cada um dos enganados, enganavadores sorridentes, a sua terrível descoberta. Em outras, nada parecido com a vontade lhe ocorria, a menos que assim pudesse ser considerada a apatia.

Nos momentos em que sua vontade quase prevalecia sobre a força de seus instintos, força essa estranhamente imposta pela fraqueza de seu corpo, pensava em muitas coisas. Para os mais alegres precisava dizer que sorrir não adiantaria muita coisa, não por muito tempo. Para os mais afoitos queria dizer que toda pressa era injustificada. Para os casais apaixonados devaneava poder dizer que ciúmes, vaidades ou outros mundanismos não eram as atitudes mais inteligentes. Os casais a irritavam especialmente. Com o desperdício de potencial que vislumbravam nos pares de seus olhos felizes, mas ignorantes e desperdiçadores da força do melhor formato de exército que ela conseguia vislumbrar.

Quando saía de casa para colher restos de feira para seu camaleão precisava recusar as esmolas e tentar ignorar os olhares fugidios acompanhados por corpos igualmente fugidios de sua estranha e malcheirosa figura. Em todo esse tempo não tinha conseguido chorar nenhuma vez. Tudo o que ainda havia de parecido com a vida em seu corpo se orientava para pensar que uso dar a sua descoberta. O recurso a palavras pouco lisongeiras que sempre buscou evitar aparecia como alternativa na comunicação com seus interlocutores desconhecidos.

Quando sentia que não podia mais suportar aquilo sozinha, passava por debaixo de seus cabelos ensebados uma idéia estranha, de que talvez se orientasse por sentimentos diametralmente opostos. Pensava em falar para se livrar de algo terrível - do qual, a rigor, não se livraria. Seria pior? Queria levar outros a sentirem o que estava sentindo? Não podia ser. Às vezes acreditava que contar tudo seria uma grande generosidade, daquelas que vêem no excesso se não uma virtude ao menos algo melhor que a omissão. Seria generoso contar às pessoas todo o risco que corriam. Elas precisam saber, pensava até achar que não conhecia ninguém merecedor de compartilhar sua descoberta. Isso se ela soubesse exatamente quão grande esta era. Sabia que era grande, enorme, tinha certeza disso. Por isso sua ética entrava em conflito com a realidade. Não sabia a coisa certa a fazer, só que aquilo tudo estava muito errado.

Seus medos sempre pequenos e constantes, sempre ignorados e incômodos, ora apareciam com a força da maior derrota, ora vestiam-se da ira que a fazia acreditar que não havia medo. Os últimos telefonemas que recebera foram incômodos. Não atendia mas tinha que ouvir a preocupação de seus pais na secretária eletrônica. Desligar o telefone foi a solução paliativa antes que a companhia telefônica decidisse, depois de três meses, agir em definitivo. Decisão esta semelhante à da companhia de água e à da de eletricidade. Cartas não recebia. Suas cobranças não pagas foram resolvidas com alguns carregadores que furtivamente entraram em sua casa para quitar suas dívidas com alguns móveis. Não, não era uma sonho, era uma lei estrangeira. Morar em casa própria naquele país estranho ajudou Maria a não ser interrompida em sua prostração.

Percebendo que sua força não seria suficiente para outra coisa, resolvera escrever. Com folhas de papel deitadas no chão compartilhado. Levava a caneta com o mínimo de contato possível capaz de gerar algum texto no papel. Às vezes tinha sono e precisava dormir. Em outras quase se impacientava com seu branco e inoportuno camaleão que não queria sair da folha de papel e que não era particularmente rápido, embora forte - pensava quando desistia de empurrá-lo.

Depois de uma resma e o suspiro final tudo estava resolvido. Era esperar a comunicação olfativa chegar aos narizes menos insensíveis que seus donos. Seu camaleão teria alimento, tornar-se-ia carnívoro, ou melhor, carniceiro. Quando pensava que o processo já havia começado percebia com o maior imediatismo permitido a alguém em seu estado de decrepitude que pensar a desmentia, e que pensar em pensar a desmentia ainda mais. E desistia depois do terceiro meta-pensamento.

Quando seus prognósticos se concretizaram ela foi encontrada por vizinhos quase igualmente famintos. O frio os juntara na casa ao lado. Não era mais possível viver algum tipo de humanidade anterior. Algo como o amor ou o humor ou a ira eram sonhos nas frágeis mentes atraídas pelo cheiro que seus corpos podiam reconhecer. Era o mesmo cheiro que agora exalava de toda a terra, só que agora mais forte. Seus vizinhos mais vigorosos, que conseguiram se arrastar até a dona do camaleão, quase sentiram algo quase vivo e puseram-se a queimar os papéis semi-anotados com escrita mais suave já vista. Enquanto comiam carne (uma experiência fantástica depois de meses em que sonhavam com comida, em que iam a feira e catavam felizes os restos abundantes, em que viviam felizes em um estado que podia ser definido como a miséria), morriam todos na mesma fogueira que torrava uma quase carne já tóxica de alguém que não pudera salvar suas vidas.

Sua tentativa final, transformar-se em alimento, doar-se antes de transmitir-lhes sua descoberta cabal falhara. De todo os restos de papel não queimados o mais contundente chegava aos olhos de um camaleão feito de luz que talvez pudesse ler as maiores letras escritas no alto da primeira folha: "As Possibilidades do Paradigma Vital Descartado e Conjecturas Relativas a Uma Nova Percepção Quanto aos Desaparecidos".

20 fevereiro, 2006

Carta à Veja

Abro abaixo enormes aspas para reproduzir carta que considero da maior importância. Enviada pelo embaixador da Venezuela no Brasil (nada contra nem a favor, à priori, do primeiro país - que não conheço; muito a favor e contra, dependendo da situação, do segundo). A carta desanca com grande elegância e um grau de aqüidade crítica impressionante essa revista que entristece jornalistas de todo o Brasil.

Agradeço a Rodrigo Reis que, me enviou o texto, que por sua vez lhe foi enviado pelo jornalista Gilberto Marotta. A fonte (desculpe), segundo Rodrigo, é uma das pessoas mais confiáveis que ele conhece, apesar de ser jornalista.
Boa leitura.


Cão de três cabeças que guarda

a entrada do Hades (~ inferno, na mitologia grega)

ganha nova versão na capa de Veja vista ao lado -

a revista gosta de mostrar suas

versões do inferno e de seus demônios.



"EMBAJADA DE LA REPÚBLICA BOLIVARIANA DE VENEZUELA EN LA REPÚBLICA FEDERATIVA DEL BRASIL Brasília, 06 de fevereiro de 2006.

Sr. Roberto Civita Editor

Revista VEJA

Senhor Civita, permita-me iniciar esta carta com o reconhecimento à tenacidade com que seus colunistas se dedicam à tarefa de impor a verdade da mídia. Nisto, tenho certeza, seriam a inveja do mesmo Joseph Goebbels. Não obstante, permita-me também lhe aconselhar que diminua o esforço para o bem da saúde mental de seus escreventes, uma vez que o mundo que lê VEJA está convencido de sua ária pureza jornalística, de que vocês, dentro do mais tradicional esquema de jornalismo conservador –tanto na técnica como no conteúdo- se sentem donos da verdade. Já sabemos, senhor Civita, que dentro de VEJA transita o dogma e a fortaleza própria do invulnerável, que qualquer coisa que esteja fora de sua linha ou do seu âmbito ideológico é errada, que vocês estão convencidos -e são capazes de morrer por isso- de que nada diferente do que escrevem pode existir fora de suas linhas.

É óbvio, senhor Civita, que VEJA é mais que uma simples revista. VEJA é um templo sem sacerdotes, ali só há deuses, pois somente os deuses geram verdades inquestionáveis. Esta condição divina é notória, por exemplo, nas fotografias que acompanham as colunas. Veja o senhor, repare bem, na postura esnobe de Tales Alvarenga, ou no olhar onipotente de Diogo Mainardi. ¡Coitado de quem entrar no âmbito de sua ira! ¡Será condenado para sempre ao inferno!

¿Ou não é verdade que somente eles conhecem aquilo que adoece o mundo e são capazes de condená-lo?
É, senhor Civita, também sabemos. Sabemos que a VEJA condena sem julgar, porque a verdade da mídia não requer trâmites desta índole, nem está aí para isso, ¿não é? Digo, para julgar, porque o jornalismo –segundo ensina a filosofia da comunicação e todos os códigos da ética- não está projetado para ser juiz, senão para se dedicar à tarefa de mostrar os diversos ângulos da realidade que é apresentada ao mundo e deixar que sejam outros os que julguem.


Mesmo assim, devo confessar-lhe que também não acredito muito nisto e que estou mais próximo de admirar um jornalismo menos frio y objetivo, a um jornalismo que não transforme os fatos humanos em simples coisas de tipografia, tinta e papel. Devo confessar-lhe que, igualmente a no meu país, prefiro um jornalismo mais combativo, distante dessa ficção que denominam "objetividade jornalística" e próximo àquela pro atividade ética que já indicava John Dos Passos na sua novela Paralelo 42 –que acredito que o senhor tenha lido alguma vez-: "o anelo de todo jornalista era desentranhar o significado exato de toda mudança operada na realidade".
Vê, senhor Civita, Dos Passos escreve "o significado exato", nós nos perguntamos de imediato ¿de que se trata isso? E ficaríamos órfãos de entendimento a respeito se não tivéssemos a capacidade de relacioná-lo com essa maravilhosa palavra que é "desentranhar", que significa, dentre outras cosas, averiguar, penetrar o mais difícil e escondido de uma matéria.


Cobra uma melhor e mais digna dimensão profissional e ética com isto a tarefa jornalística, ¿não é assim, senhor Civita? Veja, o jornalista é uma pessoa que se submerge na realidade dos fatos, esquadrinha as suas entranhas, examina os detalhes, se desliza com sigilo entre as aristas, observa atento seus diversos ângulos e os traz todos até a superfície, para dar a oportunidade de que qualquer um que passe perto de suas bordas possa senti-las e armá-las como uma realidade mais ou menos objetiva, mas principalmente humana.

E eis aqui um dos significados da palavra "desentranhar" de que mais gosto, aquele que a apresenta como um ato voluntário de desapropriação. Nada mais humano do que desapropriar-se de tudo que se tem e se conhece para entregar ao outro com a vontade ética, social e humana que possa ajudá-lo a compreender.
Lástima, senhor Civita, mas não vejo isto no olhar dos seus colunistas, pelo menos nesse que mostram as fotografias que acompanham suas colunas.


O que é bem certo é que VEJA também não crê nem pratica o contra-sentido da objetividade jornalística. O terrível é que também não responde a isto com sentido ético, porque para VEJA o mundo adoece de um mal universal: tudo o que é sensivelmente humano fede.

É por isso que entendemos esse afã por listar nomes que, repito, desde sua ária pureza jornalística, são indesejáveis, imprescindíveis, tolos, tiranos e vagabundos que devem ser exterminados para o bem do mundo que VEJA representa, um mundo uníssono, que avança na direção de um cenário globalizado de conseqüências únicas, perfeitas e sem objeção, onde uma nova religião começa a concretizar-se com rezas e acordos de compra e venda. É por isso que para vocês nosso presidente Hugo Chávez leva uma lista longa de qualificativos indesejáveis, como tirano, ditador, assassino, populista, palhaço, louco, etc, e Bush, George W. Bush, o mesmo da guerra no Iraque, é apenas um homem preocupado pela harmonia e a paz do mundo.

Pois bem, senhor Civita, nesta nova carta que agora lhe envio –e que sei que não será publicada na VEJA-, além de expressar-lhe os sentimentos acima descritos quero também aproveitar para fechar com duas coisas importantes.

A primeira é a formulação de uma queixa oficial contra sua empregada Daniela Pinheiro, quem entre a grande quantidade de mentiras que escreve no seu artigo "Com dinheiro do povo", edição N° 1941 de 01 de fevereiro de 2006, assegura que "o embaixador da Venezuela admitiu na semana passada que é possível que Chávez assista ao desfile da Marquês de Sapucaí", quando na realidade o que foi dito foi que era pouco provável que o presidente assistisse –mas é claro, tudo vale quando se trata de jornalistas que nã0 se apegam à objetividade, mas sim à interpretação jornalística pouco desapropriada de interesses… serão ¿econômicos ou ideológicos? -¿pode o senhor sanar esta dúvida, senhor Civita?

A segunda é uma simples recomendação, e a inicio com uma pergunta: ¿ouviu o senhor alguma vez Alfredo Bryce Echenique quando se refere à posição humana do homem diante da vida e da realidade? Repare, ele disse a respeito, que "na vida, a única objetividade possível é a subjetividade bem intencionada". Nós cremos o mesmo do jornalismo, cremos que este é o sentido exato que deve praticar-se nesta profissão frente a esse contra-sentido da objetividade a secas. ¿Por quê? Simples. Porque o jornalismo não é um templo de deuses, mas uma praça de vizinhança.

Julio García Montoya Embaixador "

19 fevereiro, 2006

Divagações sobre o engajamento roqueiro


Bono Vox é famoso por liderar (?) o U2, que é das bandas ainda em atividade de maior sucesso. Mas ele é famoso também por tentar o perdão da dívida externa de países africanos (conseguiu!) e por lutar por causas humanitárias as mais diversas, se valendo até de sua fama para entrar em Davos sem tratamentos (muito) diferenciados. Falar em nome dos pobres á algo que os milionários ofendem muita gente quando fazem. Mas quem tem dinheiro deve viajar pra Paris todas as férias ou é melhor que faça algo?

Isso tudo que o Bono faz e o deixou (mais) famoso é muito legal, falando sério (este é o risco de ser irônico). Mas pensem: o Brasil vive em grande desigualdade. Ele deve (nos dois sentidos do verbo) saber. Umk show aqui tem que custar 200 reais? Culpar os organizodores é fácil, mas me lembro quando o Pearl (banda cuja música não me diz muito, mas respeito) boicotou a empresa americana que detinha (detém?) o monopólio dos ingressos para shows. Achei exemplar. O peso simbólico é mais que a passividade, de qualquer forma. Coerência é algo frágil, tanto que parece muitas vezes simples retórica. Ainda assim, sua busca é masique justificável nas coisas mais significativas (no caso de um músico suas apresentações).


Em Copacabana pedras rolaram de graça. Bom pra quem não tem medo de morrer pisoteado (falo de coerência e sou pego nessa..)

Divagações, apenas divagações...

17 fevereiro, 2006

Carregando Maomé


Vem do francês charger (carregar, no sentido de impor uma carga, exagerar) a palavra charge, cuja lembrança mais recente remete a quinze mortes. Muçulmanos não gostaram da carga imposta ao profeta Maomé, cuja reprodução artística, vide o abstracionismo geométrico da mesquitas, é proibida por sua crença. Seja com intenções depreciativas ou não. O jornal dinamarquês que publicou as charges agiu de acordo com outra crença não menos determinante no mundo ocidental como um todo: o que pode ser feito deve ser feito e isto é a liberdade. Esta palavra seguida pelo "de imprensa", permite que muitos objetos de interesse social venham à luz da sociedade (que bom) e que muitas coisas sejam ditas apenas porque alguns tem poder para tal e as buscam impor às pessoas (que pena).

As charges publicadas na Dinamarca no fim de 2005 faziam o que o ocidente já fez com todas as religiões, ou seja, desqualificavam seus ícones em nome do humor. No ocidente, ainda que alguns se ofendam, o silêncio dos ofendidos é a regra. Ainda que se critique, de qualquer forma, o humor ou a ofensa (depende dos olhos que vêem) não poderá ser considerado crime. (O que há de mais próximo à condenação criminal não é algo tão bem visto pelo Estado de Direito, atende pelo nome de censura e não opera propriamente com os imperativos legais, embora não faltem exemplos...) O Estado ocidental (Dinamarca), diz-se, é laico. Os muçulmanos que exigiram o pedido de desculpas da Dinamarca vivem outro paradigma, um Estado confessamente confessional que considera crimes o que no ocidente é só (e não para todos) heresia.

Os que publicam e republicam as charges não mataram ninguém, mas o efeito do que fizeram parece um pouco com a infâmia/glória dos homens-bomba/mártires (ocidente e Islã, respectivamente) com as respectividades trocadas. Quanto há de cegueira e irresponsabilidade em um atentado terrorista? Muito. E nos desenhos? Bem menos, mas o bastante, sobretudo nas republicações provocadoras, para que estes sejam, no mínimo, irresponsáveis.

A defesa intransigente da liberdade é uma contradição. A questão de valor de uso e valor de troca aparece aqui. Liberdade conquistada e usada em detrimento dos valores alheios é repressão. Para os outros, claro. E o que, na prática, importam os outros para os que vociferam pela liberdade de expressão própria ou pelos valores islâmicos? Acima do bem do respeito ao diferente tais intenções, a despeito de todo o bem alegado, ficam sendo só intenções (e até das boas o inferno está cheio). A bárbarie não são os outros. A barbárie é a impossibilidade de conviver com a diferença, o esforço pela imposição e o conseqüente enfrentamento de idéias que, fatalmente acabam por se esvaziar. Os bárbaros sempre estão dos dois lados das fronteiras, atrapalhando a vida de todos aqueles que não fazem (tanto) mal a ninguém e que são obrigados a compartilhar o mesmo solo.

Sobre o título do blog

Ao criar (ou quase) um título para este blog quis pensar em algo interessante e de múltiplos significados. Lembrei que "Pérolas aos Poucos" preenche todos os requisitos. Havia lido isto não me lembrava onde e recorri ao Google. Trata-se do título de uma música de Zé Miguel Wisnik, que nunca ouvi (até hoje, estou curioso). A escolha não é uma homenagem ao músico, mas ficam aqui meus parabéns por ter tido esta idéia que gostaria de ter tido antes de mim (e não lido em um jornal muito antes de ter esquecido da leitura e ter recorrido ao site de busca.

Quanto à polissemia de "Perólas aos Poucos" e a escolha para o meu blog, vale fornecer algumas explicações. Primeiro, eu queria um título com duas palavras começadas pela letra "P", consoante que me persegue duas vezes e que motivou a maioria dos meus apelidos. Este título tem um trocadilho interessante, com uma ambigüidade que vem a calhar: poucos leitores ou poucas postagens? Os dois, provavelmente. Além disso tudo e de tudo o que mais pode ser evocado pelos leitores, a pérola é algo muito interessante. O sistema de defesa da ostra, animal reconhecidamente recluso, envolve um intruso e insignificante grão de areia e transforma-o em algo de valor, se não para as ostras ao menos para a indústria joalheira e seus consumidores. As pérolas não são produzidas (naturalmente, já que algumas são cultivadas em tanques e têm um valor de mercado inferior) em velocidade, portanto, espero contar com a paciência dos leitores.

15 fevereiro, 2006

Um novo conceito de blog


Existe alguma frase mais clichê qua a anterior? Não. Este blog não usará frases como essas, portanto faça boas leituras. Espero ajudá-los a observar a polissemia das coisas insignificantes. E que vocês, que têm blog, saibam que eu os leio e que se não comento nada é porque gosto: senão eu diria (mas caso gostem de dizer que gostaram de algo, não se acanhem).