06 julho, 2006

Chapter Three



O amor pesava no meu estômago. Ao ver pássaros comendo peixes com avidez vislumbrei a possibilidade de um alimento mais confiável. Os pássaros os engoliam ainda vivos, se debatendo em seus pescoços finos. Aquilo me fez pensar que o amor era disforme demais, inadequado demais para a função de alimento. Já os peixes sabiam nadar e estavam vivos. Imaginei que se o amor estivesse vivo e se debatendo no meu pescoço como aqueles peixes eu não poderia suportá-lo.

Mas que peixe eu poderia comer? Sem saber nadar, a única possibilidade de me alimentar de um peixe seria a sua vinda à terra em sacrifício espontâneo. E, no entanto, eu não sei se seria capaz de comer um ser que se sacrificasse por mim.

Pássaros menores, que só voavam até à altura de meia palmeira, traziam no bico frutinhas vermelhas. E depois as engoliam, num espetáculo muito mais pobre que o dos peixes que lutavam pela vida nos pescoços dos pássaros grandes. Os pássaros menores vinham do centro ilha, onde eu nunca estivera.

Resolvi ir ao centro da ilha, tentar saciar minha fome com aquelas numerosas frutinhas. Neste instante, um peixe pulou sobre meus pés. Olhava-o perplexo, confirmando minha incapacidade de tê-lo por alimento, quando seus últimos movimento desajeitados no reino da terra se mostravam mágicos no de origem, líquido e ilimitado. Depois de acometido pela onda que, com algum esforço contrário em reiterar seu voluntarismo malgrado o concomitante respeito à minha decisão, o levava de volta ao retiro alimentar das aves do céu. Voltei as costas àquela realidade inacessível e fui até o centro da ilha onde uma clareira abrigava a árvore de onde pássaros incapazes do contato espontâneo com o mar iam e vinham.