Diálogos Posteriores
Diálogos Posteriores
Joyce, parece, inventou o monólogo interior. Como estou muito aquém, fora mesmo, deste interior contento-me aqui em propor o diálogo posterior. Lembrando que toda humildade proclamada é presunçosa, esqueço-me de algo e continuo com um exemplo de diálogo posterior:
(Início do diálogo posterior)
[...afinal só sendo uma tapada, uma inepta, ou talvez sádica, hipótese que eu não posso aceitar de atribuir a você, uma vez que até para isto se precisa de alguma inteligência, o que me leva a escolher a primeira hipótese. Divirta-se com seus carimbos! Devem ser a coisa mais interessante do seu dia – mesmo que você reclame deles para tentar se valorizar... Mas não engana ninguém! Atribuições burocráticas do baixo funcionalismo público são a opção perfeita de qualquer pessoa que desiste de pensar, de qualquer esforço necessário para a vida comum, para levar a humanidade para algum caminho, qualquer que seja, mais interessante que a burocracia. Se Max Weber pudesse viajar no tempo e no espaço e conhecer gente assim queimaria seus escritos sobre o Estado burocrático... Entorpeça-se com mais café aguado! Continue com suas más vontades – a vingança pela não realização das suas boas vontades. Que mulher insuportável! Agora ela chora e sai correndo lá pra dentro... he he. Umas três velhinhas (que antes reclamavam dela) me dão lições de moral, e os mais novos sorriem de canto de boca... Ai... agora, onde é mesmo o cartório em que autenticam este tipo de coisa?(...)]
O diálogo posterior é, na verdade, uma espécie de monólogo posterior e, como indica seu nome, sempre continua. Apesar disso, e contrariamente ao que pode falsamente indicar tal designação, este tipo de diálogo não rende nada à posteridade. Nunca. Além disso, seria falso imaginar sue tais monólogos se restrinjam a âmbitos públicos ou trabalhistas. O contexto escolhido para o exemplo, no entanto, parece contundente – apesar de se restringir a apenas uma ínfima parcela de todos os diálogos posteriores. Afinal, se pensarmos em termos digitais, tão em voga atualmente, encheríamos terabytes de bibliotecas borgianas só com os diálogos posteriores das populações do menor ou mais desconhecido país do novo ou velho mundo. Na verdade, alguns países de população muito menor que o tamanho do ego de seus habitantes contribuíram com muito mais estantes nestas bibliotecas do que alguns de populações maiores e mais cordiais. Claro que nesta hipotética biblioteca tudo seria devidamente catalogado.
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