08 maio, 2006

Possível primeiro capítulo de um possível romance ainda sem nome


Chapter One

Subitamente, me descobri deitado numa praia de areia branca crispada de palmeiras. Eu estava sozinho, ao menos assim me pareceu. Eu não sabia nada sobre o lugar onde estava, nem ao menos como tinha chegado ali. Não sabia qual era o meu nome e em qual dia eu estava. Não sabia minha nacionalidade, só que falava quatro línguas (inglês, francês, espanhol e português) e cada uma delas bastante bem, ou assim me parecia a cada vez que eu me lembrava de todos os muitos livros que tinha lido.

Livros: esta era minha única memória, eles eram minha única memória. Todas as minhas lembranças haviam sido vividas por personagens. Esta era uma certeza que eu não podia explicar mas da qual eu estava absolutamente convicto.

Eu não perdi muito tempo tentando desvendar essas questões que eu sabia que muitos dos meus únicos modelos humanos, as personagens, tinham tentado descobrir. Logo eu descobri que estava numa ilha, uma vez circundada toda a praia. A ilha, no entanto, não era muito grande, pelo menos não quando comparada a todas as outras ilhas que tinha imaginado lendo livros.

Repentinamente, senti algo que nunca havia sentido, ou que não lembrava, o que, para todos os efeitos, acabava sendo a mesma coisa. Algo no meu estômago estava aparentemente se movimentando e de alguma forma eu sabia que aquilo tinha que parar, apesar de esta ser uma nova, e portanto boa, sensação. Lembrando de alguns livros, eu descobri que aquilo se chamava fome e comecei a comer algumas coisas transparentes que eu colhi na areia. Quando eu fiz aquilo, senti a mais maravilhosa sensação da vida de que lembrava: um calor na boca e no estômago.

End of chapter one.

5 Comments:

At 2:42 PM, Blogger Fábio Silveira said...

Ok, confesso, você me deixou profundamente curioso! Adorei a forma como você definiu a situação do personagem-narrador, me deixa bem interessado em saber o que acontecerá a ele!!!

 
At 11:41 PM, Anonymous Anônimo said...

Peeedro! Finalmente estou aqui e parece que cheguei em boa hora: primeiro capítulo de um romance!!! Ficou bem legal, o cenário descrito é fascinante ( pelo menos na minha imaginação)...
Bjoooos!
E agora sou visita certa!

 
At 2:13 AM, Anonymous Anônimo said...

sem mais vous digo
é um texto existencialista
viver como um calor na boca e no estomago

as vezes viver tb pode ser o vento na cara, ou silencio nao é?!

sim! A nausea é claro...
perceber-se é uma arte ou o pior dos castigos?
-depende..
para ser existencialista primeiramente precisamos ser viciados em alguma coisa. pq nao dá p/ existir 24 horas por dia.. e qdo mergulhamos no vicio esquecemos essa e outra qualquer existencia. e tudo fica no copo de wisky,no cigarro, na comida, no comprimido, na libido ou no pó.. é claro q ainda tem o amor e a raiva mas esses são vicios superiores alem de qualquer fuga pequena..

areias brancas
de fato meu futuro tapete no proximo mes de julho.. existindo ou não....

 
At 11:19 AM, Blogger Daniel Lopez said...

Uma versão filosófica de "Lost", aliada a uma atmosfera Pirahã, com uma pitada de Fahrenheit 451 do Truffaut (na verdade, do Ray Bradbury, que escreveu o livro).

 
At 11:19 AM, Blogger Daniel Lopez said...

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